Mas por que é importante ensinar as crianças, desde a primeira infância, a pensar historicamente?
Se desde cedo a criança desenvolver o pensamento histórico-social possivelmente não construirá uma aprendizagem baseada em estereótipos acerca da vida, da História, da cultura e das relações sociais. Nesse sentido, Oliveira (2010) afirma que
“Isso torna importante uma reflexão sobre que processos de aprendizagem ocorrem em contextos como em uma atividade escolar com a figura estereotipada de uma pessoa indígena, com as datas comemorativas, as histórias da literatura infantil, as conversas em família, a convivência nos centros religiosos, em programas de televisão ou da internet. Esses são apenas alguns exemplos de situações em que as crianças se relacionam com o conhecimento histórico. Esse contato com a experiência do passado não diz respeito apenas a conteúdos históricos, mas também a formas de lidar com esse conhecimento, de interpretá-lo, de construir significados sobre si e seu mundo na perspectiva do tempo” (OLIVEIRA, 2010, p. 99).
Nesse sentido, Bruner (1996) explica que “se respeitarmos as formas de pensamento da criança em crescimento, se formos atenciosos o suficiente para traduzir material em suas formas lógicas, desafiando o suficiente para estimular a criança para que avance” já a partir dos primeiros anos na Educação Infantil, “então é possível introduzir, numa idade inicial, idéias e estilos que, mais tarde, o tornarão um homem educado” (BRUNER, 1966 apud COOPER, 2006, p. 188). Essa é a função da Educação, e sua tarefa começa na Educação Infantil.
Outra questão que, para Bergamaschi (2000), torna importante desenvolver as operações cognitivas que estão envolvidas com o pensamento histórico, é o fato da criança da Educação Infantil estar continuamente em contato com a Temporalidade. As crianças nesta etapa educativa estão constantemente enredadas pelo Tempo que rege os afazeres e a rotina das Instituições Infantis, pois desde quando a criança se prepara (ou é preparada) em casa para dirigir-se à escola até o momento em que fica aguardando seus familiares a buscarem, o dia dela é construído sob a organização temporal.
Além disso, faz sentido o ensino de História na Educação Infantil porque as crianças querem aprender sobre História e querem desenvolver o pensamento histórico-social desde a primeira infância, como podemos observar no relato de um estudo realizado por Oliveira (2013)
as crianças surpreendiam as docentes com perguntas como: Prof., o que é uma múmia?, devido a um filme de sucesso do momento. Construíam explicações sobre objetos antigos e pouco usados atualmente, utilizando como referência experiências adquiridas em outros âmbitos, como em séries que se passam no passado. Adoravam livros infantis, didáticos e paradidáticos com temas históricos que eram disponibilizados nos “cantinhos”, encantavam-se, principalmente, com as crianças representadas nessas obras sobre as quais perguntavam e comentavam sobre os brinquedos e roupas, reconhecendo elementos da diferença e da qualidade temporal que analisavam. Muitas tinham fascínio por dinossauros, e algumas contavam experiências com familiares em museus. A dimensão do passado estava também em formas de explicar questões do presente, como em conversas sobre o meio ambiente, que se voltavam ao problema do lixo em rio próximo à escola, permitindo que construíssem explicações sobre a enchente que atingia a casa de alguns e como avós e pessoas mais velhas contavam sobre a relação com o rio em outros tempos (OLIVEIRA, 2013 apud OLIVEIRA, 2020, p. 100).
Outro relato que temos ainda é de Santos (2016), que em um de seus trabalhos exprimiu a fala de uma professora, a qual descreve que “ao trabalhar um projeto sobre cultura afro-brasileira, levou as crianças ao Museu Afro-Brasil. Ao visitarem a exposição sobre navios negreiros, tema que a docente já havia abordado em sala, um menino perguntou: ‘Professora, essa luta continua até hoje, né?’” (SANTOS, 2016 apud OLIVEIRA, 2020, p. 112).
Com isso vemos, a criança adquire conceitos e faz inferências a partir do momento que vivencia experiências históricas no seu meio educativo e social, ou seja, porque interage com o meio e age sobre ele.