Ensinar História para crianças é necessário e possível. Mas como fazê-lo? Cainelli, Cooper, Oliveira, Solé e Freitas tecem algumas possibilidades.
Para Cainelli (2006), o pensamento histórico é decorrente das relações com objetos do passado. Quando as crianças começam a imaginar o que os homens do passado sentiam e pensavam ao usar determinado objeto, elas estão relacionando passado e presente desenvolvendo noções temporais, conforme afirma Cooper (2004) “[...] ao aprender a interpretar a evidência, as crianças aprendem a fazer uma série de sugestões válidas acerca de como as coisas foram feitas ou utilizadas e, assim, concluir o que significavam para as pessoas que fizeram e usaram estes objetos (COOPER, 2004, p. 59).”
Cooper (2006, p. 171,184) estabelece como “processos chaves do pensamento histórico em qualquer nível [...] a discussão de causas e efeitos das mudanças ao longo do tempo [e] a realização de inferências a partir de fontes históricas para construir justificativas sobre o passado”, e indica que esses elementos “podem ser desenvolvidos de formas mais sofisticadas com o avançar da idade das crianças”. Um exemplo disso é exposto por Oliveira (2003, p. 168) quando explica que “[...] o fato de a criança saber que seu avô ou bisavô tem sessenta e dois anos e também saber que o descobrimento do Brasil ocorreu há quinhentos anos não impossibilita a elaboração da seguinte conclusão: meu avô ou bisavô viveu no tempo do descobrimento porque ele é muito velho”. Nesse sentido, o exemplo trazido por Oliveira, corrobora com Freitas (2010, p. 192) em sua afirmativa de que “a indução à descoberta, portanto, é uma das várias estratégias utilizadas na escola durante a formação de conceitos”, pois “nas crianças, os conceitos são inicialmente formados através do contato empírico com os objetos físicos, mediados e induzidos pelos adultos professores”.
Itamar Freitas (2010), Marlene Cainelli (2006) e Solé (2004) nos fornecem mais alguns exemplos de como as crianças inferem sobre o passado. Primeiro temos uma situação trazida por Freitas (2010, p. 192), na qual este questiona “como o garoto aprende que um artefato de ferro, de muitas rodas, que se movimenta sobre duas guias paralelas de aço solta fumaça se chama trem?” e o autor responde que “ele ‘descobre’. A ‘descoberta’ ocorre porque o adulto aponta o dedo na direção do artefato e diz: ‘olha, aquilo é um trem’”.
Solé (2004) propôs às crianças que respondessem: O que é História? Dentre as respostas, a que se destacou foi a que as crianças relacionavam a história com seu nascimento. Em seguida, propôs que contassem alguma história que conheciam, com o objetivo de conhecer como se processa o contar uma história:
Ambas a narrativa e a história, são mais que uma coleção de fatos ou seqüência de acontecimentos. Estas envolvem a descrição e interpretação de causas que têm importância para os fatos. As suas investigações sugerem que a experiência se processa de modo narrativo e que a compreensão da história pelos alunos se realiza preferencialmente deste modo (SOLÉ, 2004, p.101).
Já Cainelli (2006), ao observar como as crianças reagiam aos questionamentos propostos, verificou que elas
Recorrem a lembranças de objetos (presentes de Natal e aniversário), festas, nascimentos, para organizar o tempo com sentido de progressão. Um menino diz que se recorda de quando estava na barriga da mãe, de coisas que a mãe fazia. Segundo ele, são suas lembranças mais antigas. Dessa forma, a criança atribui um primeiro sentido explicativo a um tempo em que ainda não existia fora da barriga da mãe. É uma forma de colocar-se no mundo. Recordando-se a partir de lembranças, na multiplicidade de tempos – passado, presente e futuro, a criança vai selecionando as memórias e construindo as dimensões temporais do real vivido e não vivido (CAINELLI, 2006, p. 65).
Isso porque, segundo Cainelli (2006), a questão da Temporalidade e da forma com que as crianças entendem a passagem do Tempo está relacionada diretamente com a experiência familiar, e o pensamento histórico é decorrente das relações com objetos do passado. Assim, Cainelli (2006) conclui que as crianças a partir de experiências familiares e grupos de convivência, constroem narrativas e desenvolvem a capacidade de elaborar conceitos relativos ao mundo onde vivem, estabelecendo comparações entre as temporalidades e os espaços vividos e não vividos.
Mas, de que forma a criança estabelece comparações entre as temporalidades e os espaços vividos e não vividos, adquirindo a noção de Tempo? Nas palavras de Oliveira (2020, p. 99) “as crianças aprendem, interpretam e significam as experiências temporais que vivem cotidianamente, experiências, essas, que partilham elementos da cultura histórica da sociedade em que vivem”. No entanto, a mediação docente é fundamental para aquisição da noção de Tempo, pois para Bergamaschi (2000, p. 12) “a construção do tempo cronológico, do tempo social e do tempo histórico é importante a intencionalidade didática”.